Reviravoltas no além – sobre Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo, de João Almino. Deonísio da Silva, Caderno 2, O Estado de S. Paulo

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O ESTADO DE S. PAULO, CADERNO 2, Domingo, 18 DE OUTUBRO DE 1987

Deonísio da Silva

Nessa sátira anárquica até os mortos vivem

A Universidade de Brasília tem bons ficcionistas em seu corpo docente. Um deles é o próprio reitor, Cristovam Buarque. Um magnífico ficcionista, direis. Um ficcionista magnífico, podem acrescentar seus leitores. João Almino, que é professor na UNB, faz sua estréia na literatura e dá a entender que a imaginação continua acesa naquele campus.

Ao contrário de Brasília que, em certos dias, é um tédio atroz, o romance de Almino não tem nada de monótono. Aliás, outra professora universitária, da USP, faz um prefácio que deixa os leitores de água na boca e doidos para ler de vez o romance. A estréia chega elogiada por Ledo Ivo e Walnice Nogueira Galvão.

O romance é uma doideira muito bem construída. Há conflitos e lutas, incluindo brigas pela tomada de poder…de narrar. Quando o leitor pensa que a narrativa foi feita por Mário, surge Silvinha, que nega tudo e apresenta a verdade verdadeira. A narradora é ela. Tudo começa com a contemplação de uma foto, em Paris. Muitos personagens são nordestinos que migraram para Brasília. Como Berenice, por exemplo, apaixonada por Tõezinho, com quem se inicia no amor. Quando a lógica das circunstâncias pede que o pai obrigue o atrevido a casar-se com a donzela que deflorou, o desinfeliz mata Rufino numa briga, Berenice vem para Brasília e a confusão aumenta.

Ali, Eva Fernandes tem uma empregada de nome Tita Rodrigues. Eva é filha de general. Sua árvore genealógica é, portanto, meio dark nos tempos dos movimentados eventos do romance. Vendo Tita transar com Cadu – o autor da foto inspiradora -, Berenice descobre que o prazer é bem diferente daquele que experimentou com o seu Tõezinho. Uma sensualidade cheia de desbunde e um erotismo divertido presidem à sedução de Cadu. Além de toda esta atmosfera caliente, ocorre o seqüestro do presidente da República durante o carnaval, discos voadores visitam o Brasil, mortos vêm contar histórias.

Idéias para onde passar o fim do mundo (Brasiliense, 208 páginas, Cz$ 385,00) lembra o defunto-autor celebrado por Machado de Assis, agora ferido em sua imortalidade pela nota de mil cruzados. Igualmente cético, como os personagens em que se inspirou, o narrador – será Mário, será Silvinha? -, mesmo voltando do outro mundo para completar seu roteiro cinematográfico, não acredita na vida depois da morte. A morte depois da vida, porém, ninguém pode negar. E, com o tema, João Almino fez uma sátira divertida e anárquica, inventiva e boa de ler.

Deonísio da Silva, escritor e professor universitário, é colaborador do Caderno 2.

O ESTADO DE S. PAULO, CADERNO 2, Domingo, 18 DE OUTUBRO DE 1987

Deonísio da Silva

Nessa sátira anárquica até os mortos vivem

A Universidade de Brasília tem bons ficcionistas em seu corpo docente. Um deles é o próprio reitor, Cristovam Buarque. Um magnífico ficcionista, direis. Um ficcionista magnífico, podem acrescentar seus leitores. João Almino, que é professor na UNB, faz sua estréia na literatura e dá a entender que a imaginação continua acesa naquele campus.

Ao contrário de Brasília que, em certos dias, é um tédio atroz, o romance de Almino não tem nada de monótono. Aliás, outra professora universitária, da USP, faz um prefácio que deixa os leitores de água na boca e doidos para ler de vez o romance. A estréia chega elogiada por Ledo Ivo e Walnice Nogueira Galvão.

O romance é uma doideira muito bem construída. Há conflitos e lutas, incluindo brigas pela tomada de poder…de narrar. Quando o leitor pensa que a narrativa foi feita por Mário, surge Silvinha, que nega tudo e apresenta a verdade verdadeira. A narradora é ela. Tudo começa com a contemplação de uma foto, em Paris. Muitos personagens são nordestinos que migraram para Brasília. Como Berenice, por exemplo, apaixonada por Tõezinho, com quem se inicia no amor. Quando a lógica das circunstâncias pede que o pai obrigue o atrevido a casar-se com a donzela que deflorou, o desinfeliz mata Rufino numa briga, Berenice vem para Brasília e a confusão aumenta.

Ali, Eva Fernandes tem uma empregada de nome Tita Rodrigues. Eva é filha de general. Sua árvore genealógica é, portanto, meio dark nos tempos dos movimentados eventos do romance. Vendo Tita transar com Cadu – o autor da foto inspiradora -, Berenice descobre que o prazer é bem diferente daquele que experimentou com o seu Tõezinho. Uma sensualidade cheia de desbunde e um erotismo divertido presidem à sedução de Cadu. Além de toda esta atmosfera caliente, ocorre o seqüestro do presidente da República durante o carnaval, discos voadores visitam o Brasil, mortos vêm contar histórias.

Idéias para onde passar o fim do mundo (Brasiliense, 208 páginas, Cz$ 385,00) lembra o defunto-autor celebrado por Machado de Assis, agora ferido em sua imortalidade pela nota de mil cruzados. Igualmente cético, como os personagens em que se inspirou, o narrador – será Mário, será Silvinha? -, mesmo voltando do outro mundo para completar seu roteiro cinematográfico, não acredita na vida depois da morte. A morte depois da vida, porém, ninguém pode negar. E, com o tema, João Almino fez uma sátira divertida e anárquica, inventiva e boa de ler.

Deonísio da Silva, escritor e professor universitário, é colaborador do Caderno 2.

O ESTADO DE S. PAULO, CADERNO 2, Domingo, 18 DE OUTUBRO DE 1987

Deonísio da Silva

Nessa sátira anárquica até os mortos vivem

A Universidade de Brasília tem bons ficcionistas em seu corpo docente. Um deles é o próprio reitor, Cristovam Buarque. Um magnífico ficcionista, direis. Um ficcionista magnífico, podem acrescentar seus leitores. João Almino, que é professor na UNB, faz sua estréia na literatura e dá a entender que a imaginação continua acesa naquele campus.

Ao contrário de Brasília que, em certos dias, é um tédio atroz, o romance de Almino não tem nada de monótono. Aliás, outra professora universitária, da USP, faz um prefácio que deixa os leitores de água na boca e doidos para ler de vez o romance. A estréia chega elogiada por Ledo Ivo e Walnice Nogueira Galvão.

O romance é uma doideira muito bem construída. Há conflitos e lutas, incluindo brigas pela tomada de poder…de narrar. Quando o leitor pensa que a narrativa foi feita por Mário, surge Silvinha, que nega tudo e apresenta a verdade verdadeira. A narradora é ela. Tudo começa com a contemplação de uma foto, em Paris. Muitos personagens são nordestinos que migraram para Brasília. Como Berenice, por exemplo, apaixonada por Tõezinho, com quem se inicia no amor. Quando a lógica das circunstâncias pede que o pai obrigue o atrevido a casar-se com a donzela que deflorou, o desinfeliz mata Rufino numa briga, Berenice vem para Brasília e a confusão aumenta.

Ali, Eva Fernandes tem uma empregada de nome Tita Rodrigues. Eva é filha de general. Sua árvore genealógica é, portanto, meio dark nos tempos dos movimentados eventos do romance. Vendo Tita transar com Cadu – o autor da foto inspiradora -, Berenice descobre que o prazer é bem diferente daquele que experimentou com o seu Tõezinho. Uma sensualidade cheia de desbunde e um erotismo divertido presidem à sedução de Cadu. Além de toda esta atmosfera caliente, ocorre o seqüestro do presidente da República durante o carnaval, discos voadores visitam o Brasil, mortos vêm contar histórias.

Idéias para onde passar o fim do mundo (Brasiliense, 208 páginas, Cz$ 385,00) lembra o defunto-autor celebrado por Machado de Assis, agora ferido em sua imortalidade pela nota de mil cruzados. Igualmente cético, como os personagens em que se inspirou, o narrador – será Mário, será Silvinha? -, mesmo voltando do outro mundo para completar seu roteiro cinematográfico, não acredita na vida depois da morte. A morte depois da vida, porém, ninguém pode negar. E, com o tema, João Almino fez uma sátira divertida e anárquica, inventiva e boa de ler.

Deonísio da Silva, escritor e professor universitário, é colaborador do Caderno 2.

O ESTADO DE S. PAULO, CADERNO 2, Domingo, 18 DE OUTUBRO DE 1987

Deonísio da Silva

Nessa sátira anárquica até os mortos vivem

A Universidade de Brasília tem bons ficcionistas em seu corpo docente. Um deles é o próprio reitor, Cristovam Buarque. Um magnífico ficcionista, direis. Um ficcionista magnífico, podem acrescentar seus leitores. João Almino, que é professor na UNB, faz sua estréia na literatura e dá a entender que a imaginação continua acesa naquele campus.

Ao contrário de Brasília que, em certos dias, é um tédio atroz, o romance de Almino não tem nada de monótono. Aliás, outra professora universitária, da USP, faz um prefácio que deixa os leitores de água na boca e doidos para ler de vez o romance. A estréia chega elogiada por Ledo Ivo e Walnice Nogueira Galvão.

O romance é uma doideira muito bem construída. Há conflitos e lutas, incluindo brigas pela tomada de poder…de narrar. Quando o leitor pensa que a narrativa foi feita por Mário, surge Silvinha, que nega tudo e apresenta a verdade verdadeira. A narradora é ela. Tudo começa com a contemplação de uma foto, em Paris. Muitos personagens são nordestinos que migraram para Brasília. Como Berenice, por exemplo, apaixonada por Tõezinho, com quem se inicia no amor. Quando a lógica das circunstâncias pede que o pai obrigue o atrevido a casar-se com a donzela que deflorou, o desinfeliz mata Rufino numa briga, Berenice vem para Brasília e a confusão aumenta.

Ali, Eva Fernandes tem uma empregada de nome Tita Rodrigues. Eva é filha de general. Sua árvore genealógica é, portanto, meio dark nos tempos dos movimentados eventos do romance. Vendo Tita transar com Cadu – o autor da foto inspiradora -, Berenice descobre que o prazer é bem diferente daquele que experimentou com o seu Tõezinho. Uma sensualidade cheia de desbunde e um erotismo divertido presidem à sedução de Cadu. Além de toda esta atmosfera caliente, ocorre o seqüestro do presidente da República durante o carnaval, discos voadores visitam o Brasil, mortos vêm contar histórias.

Idéias para onde passar o fim do mundo (Brasiliense, 208 páginas, Cz$ 385,00) lembra o defunto-autor celebrado por Machado de Assis, agora ferido em sua imortalidade pela nota de mil cruzados. Igualmente cético, como os personagens em que se inspirou, o narrador – será Mário, será Silvinha? -, mesmo voltando do outro mundo para completar seu roteiro cinematográfico, não acredita na vida depois da morte. A morte depois da vida, porém, ninguém pode negar. E, com o tema, João Almino fez uma sátira divertida e anárquica, inventiva e boa de ler.

Deonísio da Silva, escritor e professor universitário, é colaborador do Caderno 2.