[:pt]
Ideias & Livros – Jornal do Brasil
Um romance com jeito de clássico
por Eustáquio Gomes
Não é sempre que aparece um romance maduro, feito para durar, com atributos de clássico. Se as qualidades de um clássico são determinadas, entre outras coisas, pelo uso da linguagem, pela economia de meios e pela capacidade de espelhar a alma humana ou de reproduzir ou imaginar um construto social convincente, então talvez tenhamos em Cidade Livre, de João Almino, um clássico no horizonte do possível.
João Almino já havia demonstrado essas qualidades em suas obras anteriores, desde Ideias para onde passar o fim do mundo (1987 ) até O livro das emoções (2008), todos ambientados em Brasília, que é também o cenário deste seu quinto romance, em que ele alcança o ápice de sua técnica, nada impedindo que a ultrapasse.
Nos romances anteriores, Almino fixou seus personagens – com os conflitos do nômade ou do homem em transição, o que é próprio de Brasília – no contexto da cidade em processo. Em Cidade livre, eles se movimentam em pleno leito embrionário da cidade, o bairro provisório com aspecto de “velho oeste” (que depois se transformou no atual Núcleo Bandeirante), feito de tábuas sobre o chão poeirento do Cerrado, onde pululavam candangos, engenheiros, empreiteiros e cavadores de toda ordem. No horizonte, o espectro da cidade que surgia aos poucos, do nada, desafiando até as imaginações mais férteis.
A ação é nucleada em torno de uma “família” sem laços consanguíneos que justifiquem esse nome, um simulacro das multidões desagregadas que afluíam diariamente para a cidade provisória, em busca de trabalho nos canteiros de obras e, quem sabe, de fartura ou mesmo de enriquecimento fácil. Nesse cenário, figuras históricas como o presidente Juscelino e seus tocadores de obra (Israel Pinheiro, Bernardo Sayão), assim como os visitantes ilustres que desfilam pelas esplanadas nuas a convite do governo (Fidel Castro, Foster Dulles, André Malraux e John dos Passos, entre outros), fazem o pano de fundo para os personagens efetivos da história, cujo poder é mínimo ou mesmo nulo.
O narrador, que nessa época ainda era um garoto, usa mais tarde as lembranças do pai adotivo e as suas próprias – além das sugestões que recebe dos leitores de um blog que mantém sobre o assunto – para compor um painel que de modo algum é a história oficial dos primórdios de Brasília, mas antes a história da gente simples da cidade provisória. No núcleo familiar onde cai o foco de luz do romance, sobressaem as duas “tias” do futuro narrador, ambas objeto de sua paixão adolescente, o pai de profissão incerta e vida quixotesca, além de Valdivino, um operário de múltiplos talentos que a cidade estrangula em sua teia de interesses e cuja morte presumida passa a ser um enigma.
Ao discurso oficial da cidade futurista como símbolo do progresso material somava-se uma pletora de lendas, origem das muitas seitas salvacionistas que até hoje permeiam a cidade. Valdivino é um nexo entre o pragmatismo do pai e o holismo daqueles que asseguravam (e continuam assegurando) que o projeto da nova Capital Federal era algo escrito nas estrelas, seus executores não passando de instrumentos de um plano superior. O que, nas palavras da profetisa Íris Quelemém, personagem recorrente dos romances de Almino, se traduz da seguinte maneira: “Deus fez os homens como máquinas, definiu como iam funcionar e o que iam fazer, deixando que eles improvisassem somente pequenas variações dentro de um movimento previsível”. Eram ideias que ao próprio JK não eram infensas, muito menos aos devotos de Dom Bosco, o padre italiano que, em sonho, teria calculado as coordenadas da nova Canaã – “a terra prometida que verterá leite e mel” – situando-a entre os paralelos 15 e 20, ou seja, o Planalto Central brasileiro. Ao menos, assim diz o mito.
Este mosaico, que em mãos menos experientes poderia se converter em linguagem de epopeia, em João Almino é descrito com palavras cruas e uma contenção que evita toda grandiloquência, inclusive nos diálogos, vivos e abundantes ao longo do livro, mas embutidos no corpo do texto como para combater o excesso de ênfase. Com isso o romance ganha musculatura em vez de gordura, conferindo verossimilhança a um tema profuso e nada fácil.
Ao eleger a Capital Federal como o locus privilegiado de suas ficções, Almino corre o risco permanente de se ver “confirmado a contragosto na posição de romancista de Brasília”, como adverte a ensaísta Walnice Nogueira Galvão na apresentação do livro. De fato, as recensões que tratam de sua obra têm insistido nesse equívoco. Bem vista a coisa, a Brasília dos romances de Almino e os dramas que neles se desenrolam são universais e funcionam como metáforas da condição humana. Não fosse assim, Machado seria meramente um escritor do Rio e Dalton Trevisan um simples contista de Curitiba. E William Faulkner, para cúmulo, seria o romancista do condado de Yoknapathawpha.
::: Cidade livre ::: João Almino ::: Record, 2010, 240 páginas
[:en]
Ideias & Livros – Jornal do Brasil
Não é sempre que aparece um romance maduro, feito para durar, com atributos de clássico. Se as qualidades de um clássico são determinadas, entre outras coisas, pelo uso da linguagem, pela economia de meios e pela capacidade de espelhar a alma humana ou de reproduzir ou imaginar um construto social convincente, então talvez tenhamos em Cidade Livre, de João Almino, um clássico no horizonte do possível.
João Almino já havia demonstrado essas qualidades em suas obras anteriores, desde Ideias para onde passar o fim do mundo (1987 ) até O livro das emoções (2008), todos ambientados em Brasília, que é também o cenário deste seu quinto romance, em que ele alcança o ápice de sua técnica, nada impedindo que a ultrapasse.
Nos romances anteriores, Almino fixou seus personagens – com os conflitos do nômade ou do homem em transição, o que é próprio de Brasília – no contexto da cidade em processo. Em Cidade livre, eles se movimentam em pleno leito embrionário da cidade, o bairro provisório com aspecto de “velho oeste” (que depois se transformou no atual Núcleo Bandeirante), feito de tábuas sobre o chão poeirento do Cerrado, onde pululavam candangos, engenheiros, empreiteiros e cavadores de toda ordem. No horizonte, o espectro da cidade que surgia aos poucos, do nada, desafiando até as imaginações mais férteis.
A ação é nucleada em torno de uma “família” sem laços consanguíneos que justifiquem esse nome, um simulacro das multidões desagregadas que afluíam diariamente para a cidade provisória, em busca de trabalho nos canteiros de obras e, quem sabe, de fartura ou mesmo de enriquecimento fácil. Nesse cenário, figuras históricas como o presidente Juscelino e seus tocadores de obra (Israel Pinheiro, Bernardo Sayão), assim como os visitantes ilustres que desfilam pelas esplanadas nuas a convite do governo (Fidel Castro, Foster Dulles, André Malraux e John dos Passos, entre outros), fazem o pano de fundo para os personagens efetivos da história, cujo poder é mínimo ou mesmo nulo.
O narrador, que nessa época ainda era um garoto, usa mais tarde as lembranças do pai adotivo e as suas próprias – além das sugestões que recebe dos leitores de um blog que mantém sobre o assunto – para compor um painel que de modo algum é a história oficial dos primórdios de Brasília, mas antes a história da gente simples da cidade provisória. No núcleo familiar onde cai o foco de luz do romance, sobressaem as duas “tias” do futuro narrador, ambas objeto de sua paixão adolescente, o pai de profissão incerta e vida quixotesca, além de Valdivino, um operário de múltiplos talentos que a cidade estrangula em sua teia de interesses e cuja morte presumida passa a ser um enigma.
Ao discurso oficial da cidade futurista como símbolo do progresso material somava-se uma pletora de lendas, origem das muitas seitas salvacionistas que até hoje permeiam a cidade. Valdivino é um nexo entre o pragmatismo do pai e o holismo daqueles que asseguravam (e continuam assegurando) que o projeto da nova Capital Federal era algo escrito nas estrelas, seus executores não passando de instrumentos de um plano superior. O que, nas palavras da profetisa Íris Quelemém, personagem recorrente dos romances de Almino, se traduz da seguinte maneira: “Deus fez os homens como máquinas, definiu como iam funcionar e o que iam fazer, deixando que eles improvisassem somente pequenas variações dentro de um movimento previsível”. Eram ideias que ao próprio JK não eram infensas, muito menos aos devotos de Dom Bosco, o padre italiano que, em sonho, teria calculado as coordenadas da nova Canaã – “a terra prometida que verterá leite e mel” – situando-a entre os paralelos 15 e 20, ou seja, o Planalto Central brasileiro. Ao menos, assim diz o mito.
Este mosaico, que em mãos menos experientes poderia se converter em linguagem de epopeia, em João Almino é descrito com palavras cruas e uma contenção que evita toda grandiloquência, inclusive nos diálogos, vivos e abundantes ao longo do livro, mas embutidos no corpo do texto como para combater o excesso de ênfase. Com isso o romance ganha musculatura em vez de gordura, conferindo verossimilhança a um tema profuso e nada fácil.
Ao eleger a Capital Federal como o locus privilegiado de suas ficções, Almino corre o risco permanente de se ver “confirmado a contragosto na posição de romancista de Brasília”, como adverte a ensaísta Walnice Nogueira Galvão na apresentação do livro. De fato, as recensões que tratam de sua obra têm insistido nesse equívoco. Bem vista a coisa, a Brasília dos romances de Almino e os dramas que neles se desenrolam são universais e funcionam como metáforas da condição humana. Não fosse assim, Machado seria meramente um escritor do Rio e Dalton Trevisan um simples contista de Curitiba. E William Faulkner, para cúmulo, seria o romancista do condado de Yoknapathawpha.
::: Cidade livre ::: João Almino ::: Record, 2010, 240 páginas
[:es]
Ideias & Livros – Jornal do Brasil
Não é sempre que aparece um romance maduro, feito para durar, com atributos de clássico. Se as qualidades de um clássico são determinadas, entre outras coisas, pelo uso da linguagem, pela economia de meios e pela capacidade de espelhar a alma humana ou de reproduzir ou imaginar um construto social convincente, então talvez tenhamos em Cidade Livre, de João Almino, um clássico no horizonte do possível.
João Almino já havia demonstrado essas qualidades em suas obras anteriores, desde Ideias para onde passar o fim do mundo (1987 ) até O livro das emoções (2008), todos ambientados em Brasília, que é também o cenário deste seu quinto romance, em que ele alcança o ápice de sua técnica, nada impedindo que a ultrapasse.
Nos romances anteriores, Almino fixou seus personagens – com os conflitos do nômade ou do homem em transição, o que é próprio de Brasília – no contexto da cidade em processo. Em Cidade livre, eles se movimentam em pleno leito embrionário da cidade, o bairro provisório com aspecto de “velho oeste” (que depois se transformou no atual Núcleo Bandeirante), feito de tábuas sobre o chão poeirento do Cerrado, onde pululavam candangos, engenheiros, empreiteiros e cavadores de toda ordem. No horizonte, o espectro da cidade que surgia aos poucos, do nada, desafiando até as imaginações mais férteis.
A ação é nucleada em torno de uma “família” sem laços consanguíneos que justifiquem esse nome, um simulacro das multidões desagregadas que afluíam diariamente para a cidade provisória, em busca de trabalho nos canteiros de obras e, quem sabe, de fartura ou mesmo de enriquecimento fácil. Nesse cenário, figuras históricas como o presidente Juscelino e seus tocadores de obra (Israel Pinheiro, Bernardo Sayão), assim como os visitantes ilustres que desfilam pelas esplanadas nuas a convite do governo (Fidel Castro, Foster Dulles, André Malraux e John dos Passos, entre outros), fazem o pano de fundo para os personagens efetivos da história, cujo poder é mínimo ou mesmo nulo.
O narrador, que nessa época ainda era um garoto, usa mais tarde as lembranças do pai adotivo e as suas próprias – além das sugestões que recebe dos leitores de um blog que mantém sobre o assunto – para compor um painel que de modo algum é a história oficial dos primórdios de Brasília, mas antes a história da gente simples da cidade provisória. No núcleo familiar onde cai o foco de luz do romance, sobressaem as duas “tias” do futuro narrador, ambas objeto de sua paixão adolescente, o pai de profissão incerta e vida quixotesca, além de Valdivino, um operário de múltiplos talentos que a cidade estrangula em sua teia de interesses e cuja morte presumida passa a ser um enigma.
Ao discurso oficial da cidade futurista como símbolo do progresso material somava-se uma pletora de lendas, origem das muitas seitas salvacionistas que até hoje permeiam a cidade. Valdivino é um nexo entre o pragmatismo do pai e o holismo daqueles que asseguravam (e continuam assegurando) que o projeto da nova Capital Federal era algo escrito nas estrelas, seus executores não passando de instrumentos de um plano superior. O que, nas palavras da profetisa Íris Quelemém, personagem recorrente dos romances de Almino, se traduz da seguinte maneira: “Deus fez os homens como máquinas, definiu como iam funcionar e o que iam fazer, deixando que eles improvisassem somente pequenas variações dentro de um movimento previsível”. Eram ideias que ao próprio JK não eram infensas, muito menos aos devotos de Dom Bosco, o padre italiano que, em sonho, teria calculado as coordenadas da nova Canaã – “a terra prometida que verterá leite e mel” – situando-a entre os paralelos 15 e 20, ou seja, o Planalto Central brasileiro. Ao menos, assim diz o mito.
Este mosaico, que em mãos menos experientes poderia se converter em linguagem de epopeia, em João Almino é descrito com palavras cruas e uma contenção que evita toda grandiloquência, inclusive nos diálogos, vivos e abundantes ao longo do livro, mas embutidos no corpo do texto como para combater o excesso de ênfase. Com isso o romance ganha musculatura em vez de gordura, conferindo verossimilhança a um tema profuso e nada fácil.
Ao eleger a Capital Federal como o locus privilegiado de suas ficções, Almino corre o risco permanente de se ver “confirmado a contragosto na posição de romancista de Brasília”, como adverte a ensaísta Walnice Nogueira Galvão na apresentação do livro. De fato, as recensões que tratam de sua obra têm insistido nesse equívoco. Bem vista a coisa, a Brasília dos romances de Almino e os dramas que neles se desenrolam são universais e funcionam como metáforas da condição humana. Não fosse assim, Machado seria meramente um escritor do Rio e Dalton Trevisan um simples contista de Curitiba. E William Faulkner, para cúmulo, seria o romancista do condado de Yoknapathawpha.
::: Cidade livre ::: João Almino ::: Record, 2010, 240 páginas
[:fr]
Ideias & Livros – Jornal do Brasil
Não é sempre que aparece um romance maduro, feito para durar, com atributos de clássico. Se as qualidades de um clássico são determinadas, entre outras coisas, pelo uso da linguagem, pela economia de meios e pela capacidade de espelhar a alma humana ou de reproduzir ou imaginar um construto social convincente, então talvez tenhamos em Cidade Livre, de João Almino, um clássico no horizonte do possível.
João Almino já havia demonstrado essas qualidades em suas obras anteriores, desde Ideias para onde passar o fim do mundo (1987 ) até O livro das emoções (2008), todos ambientados em Brasília, que é também o cenário deste seu quinto romance, em que ele alcança o ápice de sua técnica, nada impedindo que a ultrapasse.
Nos romances anteriores, Almino fixou seus personagens – com os conflitos do nômade ou do homem em transição, o que é próprio de Brasília – no contexto da cidade em processo. Em Cidade livre, eles se movimentam em pleno leito embrionário da cidade, o bairro provisório com aspecto de “velho oeste” (que depois se transformou no atual Núcleo Bandeirante), feito de tábuas sobre o chão poeirento do Cerrado, onde pululavam candangos, engenheiros, empreiteiros e cavadores de toda ordem. No horizonte, o espectro da cidade que surgia aos poucos, do nada, desafiando até as imaginações mais férteis.
A ação é nucleada em torno de uma “família” sem laços consanguíneos que justifiquem esse nome, um simulacro das multidões desagregadas que afluíam diariamente para a cidade provisória, em busca de trabalho nos canteiros de obras e, quem sabe, de fartura ou mesmo de enriquecimento fácil. Nesse cenário, figuras históricas como o presidente Juscelino e seus tocadores de obra (Israel Pinheiro, Bernardo Sayão), assim como os visitantes ilustres que desfilam pelas esplanadas nuas a convite do governo (Fidel Castro, Foster Dulles, André Malraux e John dos Passos, entre outros), fazem o pano de fundo para os personagens efetivos da história, cujo poder é mínimo ou mesmo nulo.
O narrador, que nessa época ainda era um garoto, usa mais tarde as lembranças do pai adotivo e as suas próprias – além das sugestões que recebe dos leitores de um blog que mantém sobre o assunto – para compor um painel que de modo algum é a história oficial dos primórdios de Brasília, mas antes a história da gente simples da cidade provisória. No núcleo familiar onde cai o foco de luz do romance, sobressaem as duas “tias” do futuro narrador, ambas objeto de sua paixão adolescente, o pai de profissão incerta e vida quixotesca, além de Valdivino, um operário de múltiplos talentos que a cidade estrangula em sua teia de interesses e cuja morte presumida passa a ser um enigma.
Ao discurso oficial da cidade futurista como símbolo do progresso material somava-se uma pletora de lendas, origem das muitas seitas salvacionistas que até hoje permeiam a cidade. Valdivino é um nexo entre o pragmatismo do pai e o holismo daqueles que asseguravam (e continuam assegurando) que o projeto da nova Capital Federal era algo escrito nas estrelas, seus executores não passando de instrumentos de um plano superior. O que, nas palavras da profetisa Íris Quelemém, personagem recorrente dos romances de Almino, se traduz da seguinte maneira: “Deus fez os homens como máquinas, definiu como iam funcionar e o que iam fazer, deixando que eles improvisassem somente pequenas variações dentro de um movimento previsível”. Eram ideias que ao próprio JK não eram infensas, muito menos aos devotos de Dom Bosco, o padre italiano que, em sonho, teria calculado as coordenadas da nova Canaã – “a terra prometida que verterá leite e mel” – situando-a entre os paralelos 15 e 20, ou seja, o Planalto Central brasileiro. Ao menos, assim diz o mito.
Este mosaico, que em mãos menos experientes poderia se converter em linguagem de epopeia, em João Almino é descrito com palavras cruas e uma contenção que evita toda grandiloquência, inclusive nos diálogos, vivos e abundantes ao longo do livro, mas embutidos no corpo do texto como para combater o excesso de ênfase. Com isso o romance ganha musculatura em vez de gordura, conferindo verossimilhança a um tema profuso e nada fácil.
Ao eleger a Capital Federal como o locus privilegiado de suas ficções, Almino corre o risco permanente de se ver “confirmado a contragosto na posição de romancista de Brasília”, como adverte a ensaísta Walnice Nogueira Galvão na apresentação do livro. De fato, as recensões que tratam de sua obra têm insistido nesse equívoco. Bem vista a coisa, a Brasília dos romances de Almino e os dramas que neles se desenrolam são universais e funcionam como metáforas da condição humana. Não fosse assim, Machado seria meramente um escritor do Rio e Dalton Trevisan um simples contista de Curitiba. E William Faulkner, para cúmulo, seria o romancista do condado de Yoknapathawpha.
::: Cidade livre ::: João Almino ::: Record, 2010, 240 páginas
[:]