CORREIO BRAZILIENSE, Brasília, 30 de junho de 2001
POR ROGÉRIO MENEZES
O diplomata e escritor João Almino acaba de lançar, pela Editora Record, o romance As Cinco Estações do Amor. Protagonistas: a cinqüentona Ana, professora universitária aposentada, e a quarentona Brasília, a cidade onde moramos. 0 livro, terceiro de trilogia brasiliense que incluiu Idéias Para Onde Passar o Fim do Mundo (1987) e Samba-Enredo (1994), é declaração de amor a este árido, mas cativante, lugar.
Confesso que chorei: a trajetória da algo neurótica Ana em busca da simplicidade perdida é retrato emocionante de geração que sonhou em mudar o mundo. Não conseguiu sequer mudar a si mesma.
Ana, ex-professora da UnB que mora no Lago Sul e heroína do livro de Almino, foge à regra. Consegue, depois de muito sofrer, mudar a si mesma. Descobre: a saída está na simplicidade. Nada além.
Brasília é fundamental nesse processo de redescoberta pessoal da Ana em crise: “Quero o absolutamente simples, que me acalenta, meu olhar sereno sobre a cidade que escolhi, a caminhada pela orla do Lago Paranoá…”.
Com a palavra, Ana: “… As nuvens podem, a qualquer momento, descarregar mais chuvas. Mas em breve deve começar o longo inverno seco, que todo mundo aqui teme, menos eu, pois a secura é do meu temperamento, assim como são estas paisagens vazias, pontuadas por figuras que as cruzam, como formiguinhas perdidas.”
“… 0 espanto comum diante do céu imenso; do excesso de chão. A imaginação atiçada pela liberdade e leveza das lajes de concreto, a desafiar os cálculos dos engenheiros. A teimosia em desfazer o traçado limpo, as linhas retas e as curvas suaves dos arquitetos. E isso com a espontaneidade caótica estampada nos muros sujos e nas veredas sinuosas. Dá para entender por que o astronauta russo Yuri Gagarin achou que Brasília parecia outro planeta.”
“Tudo em Brasília se dá à vista de imediato. Nos céus limpos e na luz generosa, os olhos alcançam longe não somente o horizonte, também o limite entre a cidade e o campo. Traçados previsíveis, curvas esperadas. Porém, por trás desta luz escancarada e da evidência do que está delineado, persiste um mistério.”
“Não me sinto mais estrangeira em Brasília. Tenho outros olhos e outro coração para as paisagens de sempre. A cidade já não me assombra… Ela é minha, com seu vazios, sua frieza e sua solidão. Virei íntima de seu ar empoeirado e seco, da uniformidade de suas entrequadras, de seus longos eixos sob o céu gigante.”
Eu, se fosse você, caro leitor, ia correndo à livraria mais próxima comprar As Cinco Estações do Amor, de João Almino. E não se identifique com Ana (e com Brasília), se for capaz.
CORREIO BRAZILIENSE, Brasília, 30 de junho de 2001
POR ROGÉRIO MENEZES
O diplomata e escritor João Almino acaba de lançar, pela Editora Record, o romance As Cinco Estações do Amor. Protagonistas: a cinqüentona Ana, professora universitária aposentada, e a quarentona Brasília, a cidade onde moramos. 0 livro, terceiro de trilogia brasiliense que incluiu Idéias Para Onde Passar o Fim do Mundo (1987) e Samba-Enredo (1994), é declaração de amor a este árido, mas cativante, lugar.
Confesso que chorei: a trajetória da algo neurótica Ana em busca da simplicidade perdida é retrato emocionante de geração que sonhou em mudar o mundo. Não conseguiu sequer mudar a si mesma.
Ana, ex-professora da UnB que mora no Lago Sul e heroína do livro de Almino, foge à regra. Consegue, depois de muito sofrer, mudar a si mesma. Descobre: a saída está na simplicidade. Nada além.
Brasília é fundamental nesse processo de redescoberta pessoal da Ana em crise: “Quero o absolutamente simples, que me acalenta, meu olhar sereno sobre a cidade que escolhi, a caminhada pela orla do Lago Paranoá…”.
Com a palavra, Ana: “… As nuvens podem, a qualquer momento, descarregar mais chuvas. Mas em breve deve começar o longo inverno seco, que todo mundo aqui teme, menos eu, pois a secura é do meu temperamento, assim como são estas paisagens vazias, pontuadas por figuras que as cruzam, como formiguinhas perdidas.”
“… 0 espanto comum diante do céu imenso; do excesso de chão. A imaginação atiçada pela liberdade e leveza das lajes de concreto, a desafiar os cálculos dos engenheiros. A teimosia em desfazer o traçado limpo, as linhas retas e as curvas suaves dos arquitetos. E isso com a espontaneidade caótica estampada nos muros sujos e nas veredas sinuosas. Dá para entender por que o astronauta russo Yuri Gagarin achou que Brasília parecia outro planeta.”
“Tudo em Brasília se dá à vista de imediato. Nos céus limpos e na luz generosa, os olhos alcançam longe não somente o horizonte, também o limite entre a cidade e o campo. Traçados previsíveis, curvas esperadas. Porém, por trás desta luz escancarada e da evidência do que está delineado, persiste um mistério.”
“Não me sinto mais estrangeira em Brasília. Tenho outros olhos e outro coração para as paisagens de sempre. A cidade já não me assombra… Ela é minha, com seu vazios, sua frieza e sua solidão. Virei íntima de seu ar empoeirado e seco, da uniformidade de suas entrequadras, de seus longos eixos sob o céu gigante.”
Eu, se fosse você, caro leitor, ia correndo à livraria mais próxima comprar As Cinco Estações do Amor, de João Almino. E não se identifique com Ana (e com Brasília), se for capaz.
CORREIO BRAZILIENSE, Brasília, 30 de junho de 2001
POR ROGÉRIO MENEZES
O diplomata e escritor João Almino acaba de lançar, pela Editora Record, o romance As Cinco Estações do Amor. Protagonistas: a cinqüentona Ana, professora universitária aposentada, e a quarentona Brasília, a cidade onde moramos. 0 livro, terceiro de trilogia brasiliense que incluiu Idéias Para Onde Passar o Fim do Mundo (1987) e Samba-Enredo (1994), é declaração de amor a este árido, mas cativante, lugar.
Confesso que chorei: a trajetória da algo neurótica Ana em busca da simplicidade perdida é retrato emocionante de geração que sonhou em mudar o mundo. Não conseguiu sequer mudar a si mesma.
Ana, ex-professora da UnB que mora no Lago Sul e heroína do livro de Almino, foge à regra. Consegue, depois de muito sofrer, mudar a si mesma. Descobre: a saída está na simplicidade. Nada além.
Brasília é fundamental nesse processo de redescoberta pessoal da Ana em crise: “Quero o absolutamente simples, que me acalenta, meu olhar sereno sobre a cidade que escolhi, a caminhada pela orla do Lago Paranoá…”.
Com a palavra, Ana: “… As nuvens podem, a qualquer momento, descarregar mais chuvas. Mas em breve deve começar o longo inverno seco, que todo mundo aqui teme, menos eu, pois a secura é do meu temperamento, assim como são estas paisagens vazias, pontuadas por figuras que as cruzam, como formiguinhas perdidas.”
“… 0 espanto comum diante do céu imenso; do excesso de chão. A imaginação atiçada pela liberdade e leveza das lajes de concreto, a desafiar os cálculos dos engenheiros. A teimosia em desfazer o traçado limpo, as linhas retas e as curvas suaves dos arquitetos. E isso com a espontaneidade caótica estampada nos muros sujos e nas veredas sinuosas. Dá para entender por que o astronauta russo Yuri Gagarin achou que Brasília parecia outro planeta.”
“Tudo em Brasília se dá à vista de imediato. Nos céus limpos e na luz generosa, os olhos alcançam longe não somente o horizonte, também o limite entre a cidade e o campo. Traçados previsíveis, curvas esperadas. Porém, por trás desta luz escancarada e da evidência do que está delineado, persiste um mistério.”
“Não me sinto mais estrangeira em Brasília. Tenho outros olhos e outro coração para as paisagens de sempre. A cidade já não me assombra… Ela é minha, com seu vazios, sua frieza e sua solidão. Virei íntima de seu ar empoeirado e seco, da uniformidade de suas entrequadras, de seus longos eixos sob o céu gigante.”
Eu, se fosse você, caro leitor, ia correndo à livraria mais próxima comprar As Cinco Estações do Amor, de João Almino. E não se identifique com Ana (e com Brasília), se for capaz.
CORREIO BRAZILIENSE, Brasília, 30 de junho de 2001
POR ROGÉRIO MENEZES
O diplomata e escritor João Almino acaba de lançar, pela Editora Record, o romance As Cinco Estações do Amor. Protagonistas: a cinqüentona Ana, professora universitária aposentada, e a quarentona Brasília, a cidade onde moramos. 0 livro, terceiro de trilogia brasiliense que incluiu Idéias Para Onde Passar o Fim do Mundo (1987) e Samba-Enredo (1994), é declaração de amor a este árido, mas cativante, lugar.
Confesso que chorei: a trajetória da algo neurótica Ana em busca da simplicidade perdida é retrato emocionante de geração que sonhou em mudar o mundo. Não conseguiu sequer mudar a si mesma.
Ana, ex-professora da UnB que mora no Lago Sul e heroína do livro de Almino, foge à regra. Consegue, depois de muito sofrer, mudar a si mesma. Descobre: a saída está na simplicidade. Nada além.
Brasília é fundamental nesse processo de redescoberta pessoal da Ana em crise: “Quero o absolutamente simples, que me acalenta, meu olhar sereno sobre a cidade que escolhi, a caminhada pela orla do Lago Paranoá…”.
Com a palavra, Ana: “… As nuvens podem, a qualquer momento, descarregar mais chuvas. Mas em breve deve começar o longo inverno seco, que todo mundo aqui teme, menos eu, pois a secura é do meu temperamento, assim como são estas paisagens vazias, pontuadas por figuras que as cruzam, como formiguinhas perdidas.”
“… 0 espanto comum diante do céu imenso; do excesso de chão. A imaginação atiçada pela liberdade e leveza das lajes de concreto, a desafiar os cálculos dos engenheiros. A teimosia em desfazer o traçado limpo, as linhas retas e as curvas suaves dos arquitetos. E isso com a espontaneidade caótica estampada nos muros sujos e nas veredas sinuosas. Dá para entender por que o astronauta russo Yuri Gagarin achou que Brasília parecia outro planeta.”
“Tudo em Brasília se dá à vista de imediato. Nos céus limpos e na luz generosa, os olhos alcançam longe não somente o horizonte, também o limite entre a cidade e o campo. Traçados previsíveis, curvas esperadas. Porém, por trás desta luz escancarada e da evidência do que está delineado, persiste um mistério.”
“Não me sinto mais estrangeira em Brasília. Tenho outros olhos e outro coração para as paisagens de sempre. A cidade já não me assombra… Ela é minha, com seu vazios, sua frieza e sua solidão. Virei íntima de seu ar empoeirado e seco, da uniformidade de suas entrequadras, de seus longos eixos sob o céu gigante.”
Eu, se fosse você, caro leitor, ia correndo à livraria mais próxima comprar As Cinco Estações do Amor, de João Almino. E não se identifique com Ana (e com Brasília), se for capaz.