Valor, 11 de junho de 2001
EU& Cultura
Literatura
João Almino encerra trilogia de Brasília. Novo romance mergulha no universo feminino para discutir relações humanas no fim do milênio.
Por Claudia Barcellos
Ciclos de sete anos têm vários significados místicos. E parecem funcionar matematicamente com o diplomata e escritor João Almino, que lança seu terceiro romance amanhã, no Rio de Janeiro, e na terça-feira da próxima semana em São Paulo, sete anos depois de “Samba-Enredo”, em 1994, e 14 após “Idéias para onde Passar o Fim do Mundo”, em 1987. O novo livro, “As Cinco Estações do Amor”, encerra a “trilogia de Brasília”, como chama o autor o conjunto formado pelas três obras nas quais a capital federal figura não só como cenário, mas quase como personagem.
Nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, há 50 anos, Almino é cosmopolita por vocação e também por dever de ofício. Morou em vários lugares do mundo, de São Francisco a Washington, Paris, Lisboa, Cidade do México e até em Beirute, no Líbano. Mas encontrou em Brasília, onde morou sete anos (de novo) a cidade ideal para a ambientação de suas histórias ficcionais. “A cidade é um espaço teatralizado em meus três romances. Em Brasília cabe um pouco de tudo, vários Brasis estão representados nela. Cabem lá maneiras de pensar e experiências das mais variadas.” Fora do país desde 1976, será em Brasília, também, que João Almino voltará a residir a partir de agosto, quando passa a dirigir o Instituto Rio Branco, o mesmo no qual iniciou seus estudos, aos 21 anos, quando cursava o terceiro ano de direito e decidiu seguir carreira diplomática. A única diferença é que, naquela época, o Instituto ficava no Rio de Janeiro.
Os sete anos transcorridos entre seus romances devem-se ao estilo de Almino, apontado pela crítica e pelos colegas escritores como um dos mais brilhantes romancistas surgidos no Brasil na década de 80. “Trabalho lentamente meus textos de ficção. Há um processo de amadurecimento interno e de depuração do romance.” Os grandes intervalos também são devidos à redação de outros livros (Almino é autor de seis obras de temática política), preparação de teses e conferências.
“As Cinco Estações do Amor” nasceu em São Francisco, seguiu com o autor para Lisboa e foi concluído no mês que Almino tirou férias, quando esteve em Paris e dedicou-se ao término do romance. Passou os últimos dois anos em Londres, onde Almino é ministro-conselheiro da embaixada brasileira, sendo revisto pelo autor. “Quando chego ao final desse longo processo, o livro ainda fica comigo um período considerável, para que eu faça várias leituras e modificações.”
Com um verdadeiro trabalho de ourivesaria no texto, o autor afirma ser fã incondicional de Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Lima Barreto, sobre quem declara que “apesar das imperfeições, o texto tem enorme força e uma grande ousadia”.
No novo livro, narrado na primeira pessoa, o personagem central é Ana, uma mulher cujo projeto é transformar-se no lado avesso dela mesma, Diana, nome com o qual foi registrada e que associa à audácia, coragem, segurança, sensualidade irradiante. Mas a vida fez com que a chamassem e que acabasse se tornando simplesmente Ana, professora universitária aposentada, sem nenhuma grande história para narrar, que vive imersa no cotidiano repleto de mesmices e mediocridades e que reza para que algo de excitante irrompa em sua existência muitas vezes morna e corriqueira. “Ana não é um personagem épico, tampouco heróico. É uma mulher que não tem uma grande história para contar e que busca realizar plenamente seus desejos, começar do zero, esquecer o passado. O projeto dela é ser Diana, mas a realidade que vive é de Ana. O passado está lá, recriado a cada momento.”
É a primeira vez que Almino mergulha com intensidade no universo feminino, mas o faz com tamanha fluidez que seus leitores (e leitoras, claro) devem se perguntar como entende tão bem a alma de uma mulher, transitando com naturalidade pelas angústias e questionamentos de sua protagonista. Uma explicação possível, mas não a única, é o fato de ele viver cercado por três mulheres: as filhas Letícia, de 15 anos, e Elisa, de 11, além da esposa, a artista plástica Bia Wouk, que conheceu em Paris e com quem se casou em 1979.
Aqueles que leram os dois romances anteriores de Almino vão encontrar em “As Cinco Estações do Amor” personagens que perpassam as histórias. “Eu retrabalho os personagens. Um deles é a mística Íris, que figura em todos os livros. Cadu também. Berenice, bem desenvolvida no primeiro romance, aparece neste. Paulo e Eva, apenas mencionados nos livros passados, neste têm a oportunidade de se mostrar mais.”
Embora com temáticas e enredos diferenciados entre si, os três romances ambientados em Brasília têm em comum a tragédia. “Mas o componente trágico é matizado pela resistência e combatividade dos personagens, que têm grande impulso de buscar a renovação completa, que só existiria se houvesse o zero absoluto, uma revolução nos planos social e interno.” É essa angústia de fim de século e de milênio que Almino consegue captar e traduzir.
Valor, 11 de junho de 2001
EU& Cultura
Literatura
João Almino encerra trilogia de Brasília
Por Claudia Barcellos
Ciclos de sete anos têm vários significados místicos. E parecem funcionar matematicamente com o diplomata e escritor João Almino, que lança seu terceiro romance amanhã, no Rio de Janeiro, e na terça-feira da próxima semana em São Paulo, sete anos depois de “Samba-Enredo”, em 1994, e 14 após “Idéias para onde Passar o Fim do Mundo”, em 1987. O novo livro, “As Cinco Estações do Amor”, encerra a “trilogia de Brasília”, como chama o autor o conjunto formado pelas três obras nas quais a capital federal figura não só como cenário, mas quase como personagem.
Nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, há 50 anos, Almino é cosmopolita por vocação e também por dever de ofício. Morou em vários lugares do mundo, de São Francisco a Washington, Paris, Lisboa, Cidade do México e até em Beirute, no Líbano. Mas encontrou em Brasília, onde morou sete anos (de novo) a cidade ideal para a ambientação de suas histórias ficcionais. “A cidade é um espaço teatralizado em meus três romances. Em Brasília cabe um pouco de tudo, vários Brasis estão representados nela. Cabem lá maneiras de pensar e experiências das mais variadas.” Fora do país desde 1976, será em Brasília, também, que João Almino voltará a residir a partir de agosto, quando passa a dirigir o Instituto Rio Branco, o mesmo no qual iniciou seus estudos, aos 21 anos, quando cursava o terceiro ano de direito e decidiu seguir carreira diplomática. A única diferença é que, naquela época, o Instituto ficava no Rio de Janeiro.
Os sete anos transcorridos entre seus romances devem-se ao estilo de Almino, apontado pela crítica e pelos colegas escritores como um dos mais brilhantes romancistas surgidos no Brasil na década de 80. “Trabalho lentamente meus textos de ficção. Há um processo de amadurecimento interno e de depuração do romance.” Os grandes intervalos também são devidos à redação de outros livros (Almino é autor de seis obras de temática política), preparação de teses e conferências.
“As Cinco Estações do Amor” nasceu em São Francisco, seguiu com o autor para Lisboa e foi concluído no mês que Almino tirou férias, quando esteve em Paris e dedicou-se ao término do romance. Passou os últimos dois anos em Londres, onde Almino é ministro-conselheiro da embaixada brasileira, sendo revisto pelo autor. “Quando chego ao final desse longo processo, o livro ainda fica comigo um período considerável, para que eu faça várias leituras e modificações.”
Com um verdadeiro trabalho de ourivesaria no texto, o autor afirma ser fã incondicional de Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Lima Barreto, sobre quem declara que “apesar das imperfeições, o texto tem enorme força e uma grande ousadia”.
No novo livro, narrado na primeira pessoa, o personagem central é Ana, uma mulher cujo projeto é transformar-se no lado avesso dela mesma, Diana, nome com o qual foi registrada e que associa à audácia, coragem, segurança, sensualidade irradiante. Mas a vida fez com que a chamassem e que acabasse se tornando simplesmente Ana, professora universitária aposentada, sem nenhuma grande história para narrar, que vive imersa no cotidiano repleto de mesmices e mediocridades e que reza para que algo de excitante irrompa em sua existência muitas vezes morna e corriqueira. “Ana não é um personagem épico, tampouco heróico. É uma mulher que não tem uma grande história para contar e que busca realizar plenamente seus desejos, começar do zero, esquecer o passado. O projeto dela é ser Diana, mas a realidade que vive é de Ana. O passado está lá, recriado a cada momento.”
É a primeira vez que Almino mergulha com intensidade no universo feminino, mas o faz com tamanha fluidez que seus leitores (e leitoras, claro) devem se perguntar como entende tão bem a alma de uma mulher, transitando com naturalidade pelas angústias e questionamentos de sua protagonista. Uma explicação possível, mas não a única, é o fato de ele viver cercado por três mulheres: as filhas Letícia, de 15 anos, e Elisa, de 11, além da esposa, a artista plástica Bia Wouk, que conheceu em Paris e com quem se casou em 1979.
Aqueles que leram os dois romances anteriores de Almino vão encontrar em “As Cinco Estações do Amor” personagens que perpassam as histórias. “Eu retrabalho os personagens. Um deles é a mística Íris, que figura em todos os livros. Cadu também. Berenice, bem desenvolvida no primeiro romance, aparece neste. Paulo e Eva, apenas mencionados nos livros passados, neste têm a oportunidade de se mostrar mais.”
Embora com temáticas e enredos diferenciados entre si, os três romances ambientados em Brasília têm em comum a tragédia. “Mas o componente trágico é matizado pela resistência e combatividade dos personagens, que têm grande impulso de buscar a renovação completa, que só existiria se houvesse o zero absoluto, uma revolução nos planos social e interno.” É essa angústia de fim de século e de milênio que Almino consegue captar e traduzir.
Valor, 11 de junho de 2001
EU& Cultura
Literatura
João Almino encerra trilogia de Brasília
Por Claudia Barcellos
Ciclos de sete anos têm vários significados místicos. E parecem funcionar matematicamente com o diplomata e escritor João Almino, que lança seu terceiro romance amanhã, no Rio de Janeiro, e na terça-feira da próxima semana em São Paulo, sete anos depois de “Samba-Enredo”, em 1994, e 14 após “Idéias para onde Passar o Fim do Mundo”, em 1987. O novo livro, “As Cinco Estações do Amor”, encerra a “trilogia de Brasília”, como chama o autor o conjunto formado pelas três obras nas quais a capital federal figura não só como cenário, mas quase como personagem.
Nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, há 50 anos, Almino é cosmopolita por vocação e também por dever de ofício. Morou em vários lugares do mundo, de São Francisco a Washington, Paris, Lisboa, Cidade do México e até em Beirute, no Líbano. Mas encontrou em Brasília, onde morou sete anos (de novo) a cidade ideal para a ambientação de suas histórias ficcionais. “A cidade é um espaço teatralizado em meus três romances. Em Brasília cabe um pouco de tudo, vários Brasis estão representados nela. Cabem lá maneiras de pensar e experiências das mais variadas.” Fora do país desde 1976, será em Brasília, também, que João Almino voltará a residir a partir de agosto, quando passa a dirigir o Instituto Rio Branco, o mesmo no qual iniciou seus estudos, aos 21 anos, quando cursava o terceiro ano de direito e decidiu seguir carreira diplomática. A única diferença é que, naquela época, o Instituto ficava no Rio de Janeiro.
Os sete anos transcorridos entre seus romances devem-se ao estilo de Almino, apontado pela crítica e pelos colegas escritores como um dos mais brilhantes romancistas surgidos no Brasil na década de 80. “Trabalho lentamente meus textos de ficção. Há um processo de amadurecimento interno e de depuração do romance.” Os grandes intervalos também são devidos à redação de outros livros (Almino é autor de seis obras de temática política), preparação de teses e conferências.
“As Cinco Estações do Amor” nasceu em São Francisco, seguiu com o autor para Lisboa e foi concluído no mês que Almino tirou férias, quando esteve em Paris e dedicou-se ao término do romance. Passou os últimos dois anos em Londres, onde Almino é ministro-conselheiro da embaixada brasileira, sendo revisto pelo autor. “Quando chego ao final desse longo processo, o livro ainda fica comigo um período considerável, para que eu faça várias leituras e modificações.”
Com um verdadeiro trabalho de ourivesaria no texto, o autor afirma ser fã incondicional de Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Lima Barreto, sobre quem declara que “apesar das imperfeições, o texto tem enorme força e uma grande ousadia”.
No novo livro, narrado na primeira pessoa, o personagem central é Ana, uma mulher cujo projeto é transformar-se no lado avesso dela mesma, Diana, nome com o qual foi registrada e que associa à audácia, coragem, segurança, sensualidade irradiante. Mas a vida fez com que a chamassem e que acabasse se tornando simplesmente Ana, professora universitária aposentada, sem nenhuma grande história para narrar, que vive imersa no cotidiano repleto de mesmices e mediocridades e que reza para que algo de excitante irrompa em sua existência muitas vezes morna e corriqueira. “Ana não é um personagem épico, tampouco heróico. É uma mulher que não tem uma grande história para contar e que busca realizar plenamente seus desejos, começar do zero, esquecer o passado. O projeto dela é ser Diana, mas a realidade que vive é de Ana. O passado está lá, recriado a cada momento.”
É a primeira vez que Almino mergulha com intensidade no universo feminino, mas o faz com tamanha fluidez que seus leitores (e leitoras, claro) devem se perguntar como entende tão bem a alma de uma mulher, transitando com naturalidade pelas angústias e questionamentos de sua protagonista. Uma explicação possível, mas não a única, é o fato de ele viver cercado por três mulheres: as filhas Letícia, de 15 anos, e Elisa, de 11, além da esposa, a artista plástica Bia Wouk, que conheceu em Paris e com quem se casou em 1979.
Aqueles que leram os dois romances anteriores de Almino vão encontrar em “As Cinco Estações do Amor” personagens que perpassam as histórias. “Eu retrabalho os personagens. Um deles é a mística Íris, que figura em todos os livros. Cadu também. Berenice, bem desenvolvida no primeiro romance, aparece neste. Paulo e Eva, apenas mencionados nos livros passados, neste têm a oportunidade de se mostrar mais.”
Embora com temáticas e enredos diferenciados entre si, os três romances ambientados em Brasília têm em comum a tragédia. “Mas o componente trágico é matizado pela resistência e combatividade dos personagens, que têm grande impulso de buscar a renovação completa, que só existiria se houvesse o zero absoluto, uma revolução nos planos social e interno.” É essa angústia de fim de século e de milênio que Almino consegue captar e traduzir.
Valor, 11 de junho de 2001
EU& Cultura
Literatura
João Almino encerra trilogia de Brasília
Por Claudia Barcellos
Ciclos de sete anos têm vários significados místicos. E parecem funcionar matematicamente com o diplomata e escritor João Almino, que lança seu terceiro romance amanhã, no Rio de Janeiro, e na terça-feira da próxima semana em São Paulo, sete anos depois de “Samba-Enredo”, em 1994, e 14 após “Idéias para onde Passar o Fim do Mundo”, em 1987. O novo livro, “As Cinco Estações do Amor”, encerra a “trilogia de Brasília”, como chama o autor o conjunto formado pelas três obras nas quais a capital federal figura não só como cenário, mas quase como personagem.
Nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, há 50 anos, Almino é cosmopolita por vocação e também por dever de ofício. Morou em vários lugares do mundo, de São Francisco a Washington, Paris, Lisboa, Cidade do México e até em Beirute, no Líbano. Mas encontrou em Brasília, onde morou sete anos (de novo) a cidade ideal para a ambientação de suas histórias ficcionais. “A cidade é um espaço teatralizado em meus três romances. Em Brasília cabe um pouco de tudo, vários Brasis estão representados nela. Cabem lá maneiras de pensar e experiências das mais variadas.” Fora do país desde 1976, será em Brasília, também, que João Almino voltará a residir a partir de agosto, quando passa a dirigir o Instituto Rio Branco, o mesmo no qual iniciou seus estudos, aos 21 anos, quando cursava o terceiro ano de direito e decidiu seguir carreira diplomática. A única diferença é que, naquela época, o Instituto ficava no Rio de Janeiro.
Os sete anos transcorridos entre seus romances devem-se ao estilo de Almino, apontado pela crítica e pelos colegas escritores como um dos mais brilhantes romancistas surgidos no Brasil na década de 80. “Trabalho lentamente meus textos de ficção. Há um processo de amadurecimento interno e de depuração do romance.” Os grandes intervalos também são devidos à redação de outros livros (Almino é autor de seis obras de temática política), preparação de teses e conferências.
“As Cinco Estações do Amor” nasceu em São Francisco, seguiu com o autor para Lisboa e foi concluído no mês que Almino tirou férias, quando esteve em Paris e dedicou-se ao término do romance. Passou os últimos dois anos em Londres, onde Almino é ministro-conselheiro da embaixada brasileira, sendo revisto pelo autor. “Quando chego ao final desse longo processo, o livro ainda fica comigo um período considerável, para que eu faça várias leituras e modificações.”
Com um verdadeiro trabalho de ourivesaria no texto, o autor afirma ser fã incondicional de Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Lima Barreto, sobre quem declara que “apesar das imperfeições, o texto tem enorme força e uma grande ousadia”.
No novo livro, narrado na primeira pessoa, o personagem central é Ana, uma mulher cujo projeto é transformar-se no lado avesso dela mesma, Diana, nome com o qual foi registrada e que associa à audácia, coragem, segurança, sensualidade irradiante. Mas a vida fez com que a chamassem e que acabasse se tornando simplesmente Ana, professora universitária aposentada, sem nenhuma grande história para narrar, que vive imersa no cotidiano repleto de mesmices e mediocridades e que reza para que algo de excitante irrompa em sua existência muitas vezes morna e corriqueira. “Ana não é um personagem épico, tampouco heróico. É uma mulher que não tem uma grande história para contar e que busca realizar plenamente seus desejos, começar do zero, esquecer o passado. O projeto dela é ser Diana, mas a realidade que vive é de Ana. O passado está lá, recriado a cada momento.”
É a primeira vez que Almino mergulha com intensidade no universo feminino, mas o faz com tamanha fluidez que seus leitores (e leitoras, claro) devem se perguntar como entende tão bem a alma de uma mulher, transitando com naturalidade pelas angústias e questionamentos de sua protagonista. Uma explicação possível, mas não a única, é o fato de ele viver cercado por três mulheres: as filhas Letícia, de 15 anos, e Elisa, de 11, além da esposa, a artista plástica Bia Wouk, que conheceu em Paris e com quem se casou em 1979.
Aqueles que leram os dois romances anteriores de Almino vão encontrar em “As Cinco Estações do Amor” personagens que perpassam as histórias. “Eu retrabalho os personagens. Um deles é a mística Íris, que figura em todos os livros. Cadu também. Berenice, bem desenvolvida no primeiro romance, aparece neste. Paulo e Eva, apenas mencionados nos livros passados, neste têm a oportunidade de se mostrar mais.”
Embora com temáticas e enredos diferenciados entre si, os três romances ambientados em Brasília têm em comum a tragédia. “Mas o componente trágico é matizado pela resistência e combatividade dos personagens, que têm grande impulso de buscar a renovação completa, que só existiria se houvesse o zero absoluto, uma revolução nos planos social e interno.” É essa angústia de fim de século e de milênio que Almino consegue captar e traduzir.